Por:
Vitória Alonso Florentino - Língua Portuguesa - 9°ano C – CA/UFSC
Nascida no Hospital Universitário de Florianópolis às 00h12 do dia 28 de
abril de 2005, eu fui uma surpresa para todos que estavam presentes naquela
sala de parto. O motivo? O simples fato da falta do meu antebraço direito.
Acontece que era para eu ter um irmão gêmeo que acabou morrendo, e na hora do
corpo da minha mãe dissolver o feto do meu irmão, o cordão umbilical dele
acabou enrolando em meu braço, que acabou sendo dissolvido também.
A origem do meu nome é um tanto engraçada, minha família tinha alguns
nomes em mente, mas não entravam em acordo com nenhum. Então, em uns dos
últimos capítulos de “Senhora do Destino” (novela que a minha mãe acompanhava
fielmente) uma das personagens mencionou o nome Vitória, e minha mãe bem nessa
hora sentiu um chute muito forte em sua barriga. E assim eu meio que acabei
escolhendo meu próprio nome (desde sempre com uma personalidade forte RS).
Meus pais engravidaram enquanto moravam em Fortaleza – CE, e decidiram
se mudar para Florianópolis - SC três meses antes do meu nascimento. Naquele
mesmo ano (2005), aconteceu o maior assalto a banco do Brasil, justo no Banco
Central de Fortaleza – CE. O assalto demorou cerca de três meses para ser concretizado
(tempo que os assaltantes levaram para escavar o túnel que ligava a casa deles
ao banco).
Essa história me lembra muito a um filme que também estreou em 2005,
chamado “Operação Babá”, já que no filme também tem um túnel subterrâneo
embaixo da casa dos principais personagens, que levava ao esconderijo de um
moderno sistema de satélites. O enredo do filme se deve ao agente de Marinha
dos EUA tendo que cuidar dos filhos de um renomado cientista, que estavam
correndo risco de vida. As aventuras com as crianças são inúmeras, o que me faz
lembrar-me de outro lançamento de 2005, o remake
de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”.
O filme tenta trazer a mesma moral do filme original (mas com um estilo
mais sombrio, bem característico do Tim Burton). Lembro-me bem das risadas
quando assistíamos a esse filme, era realmente muito divertido.
Falando em diversão, eu vivi até meus oito anos em um condomínio muito
grande e cheio de crianças. Eu vivia brincando junto com meus amigos no
parquinho do prédio, tanto que a minha primeira lembrança é de estar com eles
brincando na gangorra.
Em 2008, fui sorteada para estudar no NDI, no qual a única lembrança que
eu tenho é que após as aulas de natação, que tínhamos no nosso último ano de
educação infantil, as professoras nos davam uma banana para “enganar a fome”.
Chegamos em 2012, ano em que eu fui sorteada e comecei a estudar no
Colégio de Aplicação. Eu era estudante do 1°ano C, mas como já entrei na escola
alfabetizada, a minha mãe cogitou a ideia de me adiantar um ano. Mas eu já
estava muito apegada aos meus amigos e ao projeto de contação de histórias,
então fiz o segundo ano normalmente.
No terceiro ano, quando as turmas
foram misturadas pela primeira vez, eu fique muito receosa, pois não conhecia
quase ninguém, mas não demorei muito para me enturmar, e foi nessa época que eu
fiz amizades que estão até hoje comigo, além de solidificar algumas que estavam
comigo desde o início.
Em Dezembro de 2013, eu e minha família nos mudamos para o bairro do
Pantanal, onde vivemos até hoje. Como meus pais estavam muito ocupados com a
mudança, me mandaram para a casa do meu padrinho na Bahia (a primeira vez que a
gente anda de avião é realmente uma experiência inesquecível).
Quando eu passei para o sexto ano, eu sofri algumas experiências
não muito agradáveis. Alguns amigos que eu considerava muito próximos e leais,
se mostraram pessoas totalmente reversas ao que eu acreditava que eram.
Esse ano foi realmente muito
traumático, ser atacada virtualmente por pessoas que são de sua confiança é uma
sensação que eu não desejo para ninguém. Mas eu realmente acredito que todos os
momentos tristes e marcantes da nossa vida se passam para que possamos evoluir.
Os anos de 2018 e 2019 foram essenciais para eu me reencontrar comigo
mesma. Pensar o que eu queria da minha vida,
quais amizades cultivar e quais seriam os que me fariam levantar da
minha cama todos os dias.
Foi quando eu entendi também que eu, por mim mesma sou completa, e que
eu não preciso de aprovações de familiares e amigos, pois a única pessoa que
deve gostar do meu jeito sou eu mesma.
Foram nesses anos que eu libertei uma questão que eu havia repreendido e
tentado esconder por toda a minha vida, eu sou uma pessoa com deficiência.
Saber e entender o que é ser uma pessoa com deficiência numa sociedade
totalmente capacitista, é entender que esta tudo bem os olhares de espanto na
rua, esta tudo bem duvidarem da sua capacidade de fazer algo simples (como
escrever por exemplo).
O que não esta tudo bem é você se calar durante uma piada de mau gosto,
você tentar esconder sua deficiência. E com certeza não esta tudo bem em querer
ser alguém que você não é.
Termino esse texto nos dias atuais, onde em meio a uma pandemia, eu
começo a procurar entender o que é preciso para fazer um intercâmbio (sempre
fui ansiosa com o futuro, mas não me deixo escapar do presente).
Eu
entendo que as oportunidades não irão cair do céu, e que meu espaço no mundo
ainda não está bem colocado. Mas pretendo colocá-lo por conta própria, e me
impor cada vez mais, sem perder o respeito e a doçura que meus pais dizem que sempre
tive.
Sei que não esta ao meu alcance fazer do mundo um lugar melhor, mas
depende exclusivamente de mim, fazer do meu mundo o melhor lugar.
um abraço virtual para todos, e até o próximo texto!
Sem comentários:
Enviar um comentário